I'm only sleeping?
Eu não faço a mínima idéia da roupa que ela vestia. Era algo leve, isso eu bem sei, talvez um pequeno short, desses tão em moda até outro dia. Descalça, a mesma pele morena de muitos anos antes, o cabelo amarrado dum jeito diferente, mas bonito. O rosto delicado encoberto de leve pelo sol nas costas, era pôr-do-sol.
Passei por ela numa caminhada mais rápida que o ritmo que ela impunha sozinha, ela caminhava sozinha. Quando passei por ela, ela chamou meu nome. "Pedro?"
Voltei a cabeça e reconheci a mocinha irmã da outra mocinha dos tempos de escola, aquela que tinha me rendido uma árdua prova à minha retórica. Tanta conversa originou um primeiro beijo tímido e logo depois investidas mais afoitas. E nisso ficou.
Então eu a reencontrava num sonho, na praia, num pôr-do-sol, ela andando sozinha, de short e descalça, cabelo amarrado e talvez uma bata branca, eu igualmente descalço, chinelos na mão, cabelo desgrenhado pelo vento, alto pelo sal, seco pelo sol, barba rala por fazer. Ela chama meu nome, "Pedro?", eu me viro e ela abre um sorriso, e como estamos mesmo num sonho, diz assim, sem os pequenos formalismos do elogio forçado, "você está bonito"...
Agradeci e disse um sincero "você também", já interessado pela possibilidade de um revival tão improvável e causador de tanta curiosidade. Diminui a marcha e voltei o corpo para falar com ela, parecia então que tinha 15 anos novamente, mas sem as fraquezas de espírito que me acometiam naquela idade. Depois de algumas conversas bobas e esquecidas, perguntei se ela estava namorando.
"Ainda não, vou responder hoje à noite".
E então encaixei outra pergunta, ignorando o compromisso dela marcado para quando o sol estiver descansando. "Quer sair comigo?". Assim, sem qualquer sugestão de roteiro, apenas a coluna ereta, o peito aberto, os ombros alargados para mostrar confiança e a voz um tom abaixo do normal, para passar firmeza e determinação.
E do resto eu não lembro.