a funky experience

i want to
i want to be someone else or i'll explode
floating upon the surface for
the birds, the birds, the birds

segunda-feira, 11 de junho de 2007

 
A certeza

Acredito que uma das coisas mais complicadas de se encarar seja a morte. Provavelmente por causa do meu ateísmo, que não me reserva nada para o post mortem, mas acho que até para os religiosos e crentes em geral.

Não é fácil, tenho certeza de que não é, encarar que seu tempo por essas paragens está chegando ao fim.

O problema não é bem tudo aquilo que você deixou de fazer, os lugares que você não viu, os sabores que você não sentiu. Eu não acho que seja isso. O complicado mesmo é a matéria, largar o diabo da matéria. Saber que essas coisas todas que você viveu e lutou tanto para ter estão indo.

É bem o que dizem: “caixão não tem gaveta”. Não, realmente não tem. Como o meu melhor amigo disse outro dia, por que arriscar desperdiçar cada possível sensação da vida apenas para viver mais cinco minutos? Bobagem, não?

Eu também acho, embora não consiga me convencer a detonar meu corpo em troca do imprevisível sabor do dobrar a esquina. O ponto é que alguém que ainda não atingiu a famosa ‘melhor idade’ consegue mensurar como é angustiante saber que o fim está próximo. Tive essa sensação muito clara quando eu vi uma entrevista do Saramago na Globo. Lá ele se dizia não temerário do fim.

A questão é que o cerne de tudo isso é muito mais além. Começa-se a ter saudade das coisas simples de tudo, de todo dia. Começa-se a pensar no que poderia ter sido e não foi, como o Maneco, pensa-se que o réquiem é para a sua morte, sim, que é a sua última ida ao trabalho, que alguns ficarão desamparados, que os jornais se acumularão no pé da porta e o pó vai tomar as prateleiras. Pensa-se que as palavras cruzadas vão ficar pela metade.

Para os pacientes terminais, encarar a morte talvez seja um alívio. É triste dizer isso, mas me parece mesmo. Sorry, baby. Bom, voltando: para eles talvez seja um alívio, batalhas foram perdidas e ganhas, mas a guerra, essa has gone. Não há quem culpar, o que não lima o sofrimento, claro. Mas quando se fica velho, todo dia que se acorda deve ser um novo pedido para acordar no dia seguinte.

E todo dormir é uma nova angústia sobre o que os sonhos te reservam. Talvez uma premonição de como será a partida?

Sinceramente, não sei. E espero um dia descobrir, por que quero ver como vai ser o futuro, o que o mundo e homem nos reservam. Mas a balança, todo dia, pesa um pouco mais para o lado de lá. Essa é uma certeza irrefutável. Triste certeza irrefutável.

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