São Bernardo do Campo fica no Leste Europeu
Descobri, finalmente eu descobri.
Depois de tanto tempo admirando e pensando a respeito da arquitetura das cidades do ABC, depois de ter visitado Santo André, depois de ter visto uma parte do caminho de São Bernardo do Campo para São Paulo, finalmente descendo no Parque Dom Pedro II, pegando o metrô, vendo a paisagem, finalmente descobri.
Descobri o que me chama tanto a atenção por aqui: as cidades me remetem a uma imagem mental do que seriam as cidades do Leste Europeu à época da Guerra Fria, com praças amplas, ruas largas, pessoas caladas, locais ermos, arquitetura fria, pouco convidativa.
Talvez tenha sido Santo André o local que tenha mais me chamado a atenção para isso. Não sei explicar bem, como disse antes, é uma coisa que agora vem à minha cabeça muito claramente, mas que anteriormente me passava apenas uma idéia de desconforto, como se tudo ali não me pertencesse, imageticamente falando. Falo de imagética por que é a construção das imagens, como as imagens desses lugares são construídas para mim, como esses ambientes me são não reais, mas percepções adquiridas em viagens de ônibus calado, olhando para as ruas pela janela.
Agora que os dias têm sido mais frios, com o tempo nublado que está, fica mais simples ainda de ter esse tipo de percepção. Tudo fica mais sóbrio, as pessoas ficam mais quietas, não saem tanto na rua, tudo fica um pouco mais calmo e um pouco mais sombrio. O céu, nas noites, fica até parecido com o céu que tanto me encanta aí em Teresina [engraçado que o pôr-do-sol aqui tem tons dourados...], e aumenta a sensação de vazio espacial. Você pode andar muitas e muitas quadras até cruzar com alguém que te olhe nos olhos.
O Grande ABC me parece muito, de verdade, com a imagem que eu tenho na minha cabeça, a imagem recorrente e mais do que verdadeira do que eram as cidades do Leste Europeu à época da Guerra Fria: gélida, distante e impessoal. O pior é que, de uma maneira ou de outra, eu ainda me sinto meio que em casa.