a funky experience

i want to
i want to be someone else or i'll explode
floating upon the surface for
the birds, the birds, the birds

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

 
4a carta

Na parábola bíblica, Babel era a torre que queria chegar aos céus. Diante de tamanha afronta, Deus (ela mesmo, a Alanis) mandou um raio e ZIP!, mudou a língua de todo mundo e ficou cada um falando um idioma diferente.

No filme Babel, a língua é uma puta barreira para todos os personagens do filme. Inglês, espanhol, 'marroquino', japonês, linguagem de sinais, tudo é barreira para que as pessoas se entendam.

Claro!

Na cidade 'babelística' de São Paulo, a barreira é o silêncio. Tal como naquela festa relatada na Bravo! Que li indo para Jeri [aquela, do Paulinho da Viola e do Arnaldo Antunes na capa], capa um está imerso no seu próprio MP3/MP4 que toca até 12h seguidas com a mesma pilha AAA [essas você encontra no Pão de Açúcar por R$ 6,29 o par].

Cada um está imerso numa realidade diferente de sons. Cada um está mais isolado ainda do outro, perdido entre Mombojó, Ludovic e Chico & Caetano [como eu], ou emocore, metal, sampa, rap, hip hop, whatever...

Os paulistas não tem costume de serem tão abertos ou educados [no nosso ponto de vista] quanto nós. Talvez seja o clima, os genes, ou apenas medo.

Eu já falei disso em outra carta, mas é tão marcante, tão presente, que o silêncio nem incomoda mais. Tenho medo de me tornar um deles.

A falta de alguém para conversar, beber a Absolut eu está no meu guarda-roupa ou para apenas dividir o mesmo ambiente faz de mim recluso do meu silêncio.

Imagine você não ter com que ou por que falar durante horas seguidas. Imagine que eu não tenho ninguém para compartilhar os dez filmes que eu vi durante o Carnaval. Já não está doendo tanto assim. E só faz um mês que aqui estou.

Um dia, um pouco antes de começar na Abril, perguntei a um amigo o que eu deveria estar atento quanto aos paulistanos. "Eles são um povo que não acham legal quando você chega querendo abafar. Ouça e observe", disse ele, mais ou menos isso.

E assim tenho feito. É como "Little Miss Sunshine": voto de silêncio e observação. Always.

"Carnaval, Carnaval, Carnaval...
eu fico triste quando chega o Carnaval..."

[Luís Melodia]

Sabe que eu nem fico mais triste? Esse talvez tenha sido o Carnaval mais sereno da minha vida. Saudade? Claro! Mas a cada sessão, a cada filme, pessoas diferentes pediam licença para adentrar minha vida. Cada personagem vinha de um canto diferente, falava de um jeito diferente, pedia uma coisa diferente.

Essa novidade constante, essa coisa de histórias novas em todo canto, me deixava mais relaxado, mais tranqüilo. Cada rosto conhecido que eu não encontro em cada esquina que eu dobro me faz pensar melhor em cada passo que dou.

Uma coisa que me acalenta é que eu leio mensagens de celular, no msn ou e-mails escutando a voz de quem escreveu dentro da minha cabeça, como se ela lesse o texto.

E há vozes [sim, a sua...] que, mesmo não querendo, eu já começo a esquecer. E eu não quero isso. Juro!

Tenho uns postais bacanas para enviar. Do pub irlandês que fui outro dia, peguei 14. Preciso do endereço completo dos interessados.

E, por favor, não me deixe[m] esquecer sua[s] voz[es]. É isso que me enche de alegria.

Pedro Jansen
20.02.07

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